quinta-feira, 2 de julho de 2009





Sonos
Durmo melhor entre o som das conversas.

Existe uma espécie de abrigo cálido que se conforma em torno das vozes de familiares e conhecidos. Tombar entre esses sons produz o melhor dos sonos.

Aliás, só me lembro de um melhor: o sono do carro quando somos pequenos, e a sensação de ser carregado, imóvel – fingindo-se desmaiado – até a cama. Até as funções de higiene como escovar os dentes, lavar o rosto e as mãos, tudo dispensável. Em primeiro lugar, o repouso do corpo. O sono da alma.

O súbito silêncio nas conversas é que me desperta. Os gritos, as interjeições e discordâncias não. Tudo conspira para – como aquele cobertor displicentemente jogado sobre os meus joelhos num dia mais frio – me envolver no desejo de não estar em nenhum outro lugar.
Às vezes estava na rede, na casa da praia. Uma brisa leve esfriava o ar que entrava pelo meu nariz, misturando cheiro de maresia, churrasco, caipirinha, café e sobremesa.

Até hoje fico em dúvida se dormia ou fingia. Alguns momentos são tão perfeitos que dá vontade de parar de respirar para ver se se eternizam. Ainda bem que não: sempre vem alguém e gentilmente nos toca o ombro e diz: café com bolo?
Carlos Stein.

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